quarta-feira, 25 de setembro de 2013

RUTH ESCOBAR, UM PRESENTE DE PORTUGAL PARA O BRASIL

Em 22/09/2013, o Globo publicou uma triste notícia sobre esta importante personalidade do mundo do teatro, sob o título elogioso de “Ruth Escobar, a Agitadora”. Com 70 anos, ela está com Alzheimer e perdeu a memória. Atriz da peça “Torre de Babel”, que fez sucesso nos anos do autoritarismo, atuou e produziu outros espetáculos politizados, sempre lutando pela liberdade de expressão, desafiando censores e militares. Ruth foi deputada duas vezes nos anos 80, período em que, corajosamente, dentre outras peripécias, fez uma algazarra no Dops de São Paulo, e conseguiu libertar quatro atores da peça “A Revista do Henfil”, no grito! No entanto, a publicação do Globo omitiu um de seus maiores feitos, na minha opinião. Tratou-se da proibição indireta da apresentação do Balé Palestino, no Teatro João Caetano ou Municipal (não me lembro), pelo então Secretário da Educação e Cultura, Arnaldo Niskier, em odioso ato supostamente discriminatório e racista, motivado por ser ele sionista e/ou pela visão transmitida pela imprensa ocidental de que os palestinos eram todos terroristas. Uma falsidade, pois não se poderia julgar um povo inteiro pelos atos violentos de grupos radicais, que inconformados e desesperados com a perda de suas terras, promoveram atentados e sequestros de aviões em vários pontos do planeta. Mas, a proibição indireta (justificativas não comprovadas) da apresentação de bailarinos foi intensamente ofensiva aos princípios desta valente mulher, assim como prejudiciais ao evento que organizara. Ela lutou e conseguiu a ordem para apresentação do espetáculo, provavelmente cumprida a contragosto pelo proibidor (que deve ter ficado em casa, com medo de ser atingido por bombas lançadas pelos bailarinos...). A liberdade de expressão, que hoje vivenciamos, deve muito aos corajosos resistentes de então, dentre eles este presente que o Brasil ganhou de Portugal, a inesquecível Ruth Escobar.