segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

EMPRESÁRIO VISIONÁRIO



De vez em quando, aprecio certas opiniões e percepções do colunista Elio Gaspari.
Hoje, 24/02/14, ele enaltece um empresário rico (que se formou em Universidade Pública), que tem patrocinado o curso e a manutenção básica de estudantes pobres, aprovados no vestibular de engenharia de uma das melhores (e mais caras) universidades do país. Elogia o sucesso do empreendimento e noticia que o empresário, que doa R$ 360mil por ano, se gratifica trocando mensagens e aconselhando a garotada.  Apesar de parecer muito dinheiro, diz que “o valor real está na alma de quem dá”.  
Conforme afirmou  o famoso jornalista,“se um, em cada dez endinheirados nacionais, que estudaram de graça, seguisse o exemplo daquele empresário, o   Brasil seria outro mais depressa”.
Em princípio, o visionário empresário, descortinou um novo quadro de opções do liberalismo, para obter mão de obra técnica de qualidade (financiar os melhores pobres nas melhores escolas). No caso, não deve estar havendo apenas o caráter filantrópico, agradecido pelo estudo gratuito que ele teve. Claro que deve ter sido celebrado um contrato de exclusividade, para ser cumprido após a formatura, ou uma dívida a ser paga com os futuros salários, pois ninguém dá nada de graça...
Nunca soube de algo parecido, nesta área, salvo pelo envio de profissionais ao exterior para cursos de aperfeiçoamento, que as empresas financiavam,  mas garantiam o retorno do investimento por um contrato de exclusividade(às vezes de 5 anos) no retorno do aperfeiçoado, prática que foi coibida pelo Tribunal Superior.
Quando cheguei ao Rio, transferido do interior para a Filial do Banco em que trabalhava, em março de 1963, ganhava um salário mínimo. Com aquele salário, eu me sustentava, pagando a pensão (quarto dividido e comida), o cursinho vestibular e suas apostilas, livros, transporte, roupa e ainda fumava Continental e assistia um filme no fim de semana, além de poder viajar de ônibus para visitar a família, duas vezes por ano. Um empenho obsessivo para passar no vestibular de engenharia, cujo sucesso requereu o despojamento dos prazeres normais de um jovem de 18 anos. Mas, venci e consegui me formar, valendo-me da legislação que me garantia horário especial, mesmo em se tratando de um banco privado. Mas tudo mudou...
Com a gradativa queda do poder aquisitivo do salário mínimo, de há muito que já teria sido impossível a um jovem atingir o mesmo objetivo, nas mesmas circunstâncias, pois um salário hoje não daria sequer para pagar um curso preparatório.
Na Faculdade de Engenharia da Universidade do Estado da Guanabara (hoje FEUERJ), tive colegas ricos, oriundos de ótimos colégios, que também passaram no mesmo vestibular, valendo-se das irrestrições quanto ao poder aquisitivo do candidato. Claro, os ricos ocupavam os lugares dos pobres e da classe média baixa e média, pois eram mais bem preparados. 
Dentre esses ricos, lembro-me de parentes de empresários da construção civil, de políticos, de lojas tradicionais de produtos domésticos, de fábrica de transformadores de alta potência, de donos de seguradoras etc. Inclusive, quando ingressei, lá já estudava um filho de famoso político, que, após formado, tornou-se governador de Alagoas (Agripino Maia).
Não só na ex-FEUEG,  como nas demais Universidades Públicas, estudaram e se formaram ricos de todos os ramos, sem pagar um só centavo pela formação.
Mas nunca se teve notícia de nenhuma contribuição deles para as Universidades Públicas, quanto mais para financiar jovens carentes.
A surpreendente ideia do empresário deveria servir de exemplo e estímulo para os seus pares financiarem a formação de engenheiros, de médicos, de pesquisadores,  de programadores,  de professores, de técnicos, de operários e de tantos outros que o Brasil precisa, mas cujo potencial, com todo o sistema de cotas, de bolsas etc, encontra-se ainda subaproveitado nas populações de renda baixa.
 Mas, conhecendo-se o perfil conservador, ganancioso e individualista dos empresários nacionais, acho mais provável que eles estimulem aquele empresário a parar com isso...ora pois pois!

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